11 de fevereiro de 2016

SORTE OU AZAR? COMO FOI MORAR EM CASA DE FAMÍLIA NO CANADÁ?

Se você está prestes a fechar um intercâmbio e esta pensativo se fica em casa de família ou em outro tipo de acomodação, pense muito bem nas suas prioridades e já tenha em mente que casa de família é uma loteria, muitas pessoas dão sorte de ficar em casas muito boas, com famílias excelentes e comida maravilhosa, mas muita gente (como eu) dá o azar de cair numa casa com infraestrutura ruim, comida péssima e mais regras que um quartel.


Quando eu fiz o intercâmbio na Espanha eu não quis de jeito nenhum morar em casa de família, eu tinha 23 anos e tava louca pra ter liberdade então escolhi apartamento estudantil (que é diferente de residência estudantil) e não me arrependi nenhum pouco, foi tudo maravilhoso.
Mas dessa vez, no intercâmbio para o Canadá eu optei por casa de família por três motivos:

  1. Eu tenho muita dificuldade com o inglês e tinha pouco tempo pra aprender, então ficando em casa de família eu poderia ter contato com nativos e praticaria mais o idioma;
  2. Na escola que eu estudei em Vancouver não tem apartamento estudantil, só tem casa de família ou residência estudantil, que em Vancouver é bem cara;
  3. Eu queria viver de verdade a cultura do país.


Então eu contratei casa de família, com quarto individual, banheiro compartilhado e meia pensão (café da manhã e jantar), alguns dias antes do meu embarque recebi a carta de confirmação da família, onde fala um pouco sobre a família e tem os contatos e nome dos familiares, até mostrei aqui a minha carta.
Meu primeiro contato foi através de e-mail que eu enviei me apresentando e a hostmother me respondeu com algumas dicas de como eu chegaria lá e dizendo que eu precisava chegar antes das 14h do domingo, o que já me fez mudar meus planos, já que eu chegaria no sábado a meia noite e iria ficar num hostel no centro da cidade (a essa hora não se pode ir pra casa da família) e planejava acordar tarde para me recompor das quase 24 horas de voo e depois dar uma volta pelo centro, pra já ir me familiarizando.
Mas ok, peguei um taxi e as 14h estava eu, lá na porta da minha nova casa, sendo recebida pela minha hostmother que foi super simpática (mas não me ajudou com as malas, hahaha). Após me instalar em um dos quartos destinados aos estudantes, ela fez um pequeno tour comigo pela casa, mas só pelas áreas que eu poderia circular, claro; fomos andando a uma lojinha para comprar o passe mensal de ônibus, e de carro fomos a downtown para que eu tivesse uma ideia de onde ficava a minha escola e qual o trajeto que eu faria, qual o ponto de ônibus que eu desceria e etc, durante o percurso ficamos conversando e até recebi elogios do meu inglês (ebaaa!!).
Ao chegarmos em casa ela me deu uma folha A4 frente e verso com as regras da casa, tudo em inglês, e leu uma por uma comigo, mas já já falaremos sobre as regras, vamos começar com a localização.



  • LOCALIZAÇÃO
Quando se contrata casa de família, você é informado (ou pelo menos deveria ser) que a casa poderá estar a até uma hora de transporte público da escola, o que para muita gente isso é um fator que super deve ser levado em consideração, principalmente se você vai estudar pela manhã e tem dificuldade de acordar cedo.
Mas graças a Deus neste ponto eu dei sorte.
Vancouver é dividida por zonas e cada zona tem um valor de passagem de ônibus diferente, de acordo com a distância, além disso, Vancouver conta com 3 tipos de transportes públicos, o ônibus, o skytrain (metro) e barco, e dependendo de onde é a sua casa, pode ser que você precise pegar os 3 meios de transporte para ir pra escola, pode ser que precise pegar dois ônibus ou pode ser que dê sorte como eu e pegue só 1 ônibus e em 20 minutos esteja na escola.
Quem já morou em casa de família durante um intercâmbio sabe que isso não é o mais comum, principalmente se o destino for uma cidade grande;  em Vancouver por exemplo, a minha casa era a mais próxima ao centro, de todas as pessoas que eu conhecia na escola.
Além de eu ter sorte de só levar 20 min de casa pra escola, minha casa ficava na zona 1, então eu pagava mais barato no bilhete mensal.

A parte ruim da localização da minha casa, é que eu morava em um bairro extremamente residencial, o único ponto comercial era uma lojinha fuleira que ficava umas 2 ruas da minha casa, mas era super cara, então se eu quisesse comprar qualquer coisa pra comer, tomar café da manha fora, almoçar nos fins de semana ou feriados eu tinha que ir pra Downtown.


  • ESTRUTURA DA CASA
Nessa parte eu não tive nenhuma sorte...
a casa que eu morava era velha e a família não tinha muito dinheiro, então tudo lá dentro era velho.
No primeiro quarto que fiquei, a cama era de ferro e eu não podia respirar um pouco mais forte que a cama fazia barulho, imagine então quando eu me mexia, Meu Deus... pra mim que tenho sono leve, era impossível dormir com tanto barulho que a cama fazia e então pedi pra mudar de quarto.
No segundo quarto, a cama também era de ferro, mas não fazia tanto barulho, mas pra compensar, o quarto ficava embaixo da sala da casa e como eu disse, a casa era velha, o chão era de madeira e toda vez que alguém andava a madeira rangia... quando eles chamavam os amigos pra um jantar ou coisa assim, parecia que a festa era dentro do meu quarto.

Em muitas casas, a parte dos estudantes é no basement (porão) da casa e os quartos tem o teto um pouco mais baixo e uma pequena janela mais perto do teto, meu quarto era assim, com a sorte de ter duas pequenas janelas, mas mesmo assim era muito escuro e a iluminação artificial era muito precária.


(vídeo do segundo quarto, no dia que mudei)


Em muitas casas, os estudantes tem uma mini cozinha disponível só pra eles, mas na minha casa, a host desfez a cozinha pra transforma-la em quarto para receber mais um estudante, então usávamos a mesma cozinha da família, acontece que como eu mencionei, não se podia andar que o chão de madeira fazia barulho e um dia tomei uma bronca porque subi pra beber agua as 23h e fiz barulho andando pela cozinha e por causa desse barulho o hostdad acordou.
Além disso, o microondas tinha 27 anos, já nem tinha mais aquele prato giratório e para abrirmos tínhamos que suspender a porta pra depois puxar, o que fazia muito barulho. A única coisa nova que tinha na casa era uma chaleira da kitchenaid, que eu tinha até medo de mexer de tanto que a host dizia para tomarmos cuidado, porque ela era muito cara.


  • FAMÍLIA

Como eu disse, escolhi ficar em hostfamily pra praticar mais o idioma e pra vivenciar a cultura deles, mas isso não deu 100% certo.
A família que fiquei era composta por um casal, uma senhora de 50 e poucos anos, canadense, e um senhor de 40 e poucos anos, latino, se não me engano, da Colômbia. A senhora tinha uma filha, canadense, mas que não morava com a mãe, então tive pouquíssimo contato com ela.
A host mom era bem faladeira, gostava de conversar, então acabei praticando muito o inglês com ela, falávamos sobre a escola e sobre as coisas que eu tinha feito no dia, mas ela não era muito boa para dar dicas do que fazer e onde ir. E uma coisa que me irritava muito nela é que ela adorava brigar com a gente,  reclamava de tudo que os estudantes faziam, mas sempre falava sorrindo, com voz baixinha e a gente ficava sem graça de retrucar.
Já o host dad, se troquei 2 palavras com ele em 4 meses foi muito e foi porque eu comecei a falar, e não é porque ele não falava inglês, ele falava sim, mas ele era muito na dele, tinha cara fechada e não interagia com a gente; a impressão que eu tinha é que ele não gostava de receber estudantes.

Sobre viver a cultura do país por estar em hostfamily, isso não aconteceu comigo.
Não fazíamos refeições juntos, não saíamos juntos e não passamos nenhuma data comemorativa do país juntos.
Quando havia alguma festinha na casa, como o jantar de comemoração quando a filha entregou a tese do mestrado, as estudantes não participavam, ficávamos nos nossos quartos esperando a festa acabar e depois subíamos pra jantar o que tinha sobrado.
Poucas pessoas realmente incluem o estudante na vida da família, e muitas famílias nem tem contato com os estudantes.

Ahh.. uma observação super válida para cidades tão multiculturais quanto Vancouver.
Vancouver é conhecida por ter gente do mundo todo e isso é total verdade, é mais fácil encontrarmos um imigrante do que um canadense, então você conseguir morar em uma casa de família canadense é sorte, muita gente mora com famílias asiáticas, latinas e europeias, e por mais que falem que falar o idioma do país fluente seja uma exigência pra família entrar no programa, isso não é bem verdade, conheci uma host que era do leste europeu e o inglês dela era péssimo.


  • ALIMENTAÇÃO

Se eu achava que estar numa casa velha, barulhenta e cheia de regras era o master do azar, era porque eu não tinha pensado na comida ainda.
Pra começar, no café da manhã só tínhamos leite, pão de forma, manteiga de amendoim e creamcheese, mas eu sou intolerante a lactose e perguntei se a host podia comprar suco de laranja em caixinha pra eu tomar no lugar do leite e a resposta foi: Vou ver!
Enquanto ela não via, eu comia pão com água de café da manhã e isso só se resolveu depois que eu conversei com a escola, na segunda semana e era bem claro que ela não estava gostando dessa situação.
Mas pior que o café da manhã, era o jantar... MEU DEUS, o que foi que eu fiz praquela mulher??? Eu falei no video sobre os gastos de um intercâmbio sobre alimentação lá eu disse que a comida da minha casa era muito ruim, e eu não estava brincando, a comida era péssima. A maior parte das vezes era comida asiática de péssima qualidade comprada em supermercado que ela só esquentava e colocava pra gente, uma vez tinha rolinho primavera, que ela partiu no meio e colocou metade pra mim e a outra metade pra outra estudante, de outra vez tinha uma pizza de supermercado que era com carne moída, mas a pizza tinha uma cara nojenta e ninguém quis comer (éramos 3 estudantes) e então essa pizza apareceu no nosso jantar por 3 dias seguidos, no 4˚ dia, a host partiu a pizza e colocou um pedaço no prato de cada uma. O meu pedaço foi pro lixo e eu fiquei com fome.
A maioria das vezes eu comia pra não ficar com fome e não ter que gastar mais dinheiro com comida, afinal, eu já tinha pago aquilo.


  • REGRAS DA CASA
Lembram que eu disse que no dia que cheguei recebi uma filha A4 frente e verso com as regras da casa? Então, dá só uma olhada em algumas das regras.
  1. Pra entrar em casa tinha que tirar os sapatos. Ok, isso é um costume de Vancouver, pra não levar a sujeira da rua pra dentro de casa porque lá chove muito.
  2. Não podia levar o jantar pro quarto. Ok, entendo que nem todo mundo é limpinho e ela não queria que o quarto ficasse cheio de restos de comida.
  3. O jantar era só ate as 19h, se eu chegasse em casa após esse horário eu ficaria sem comer. Oi? e a parte que eu li na internet que todo mundo deixa o prato na geladeira e quando o estudante chega ele pode comer? Não, na minha casa isso não existia, pois ela queria a cozinha limpa até no máximo 19:30h, então problema seu se você pagou por aquela refeição e resolveu fazer um passeio com a escola, ou resolveu ficar andando pela cidade pra se familiarizar;
  4. Cada estudante limpa seu próprio quarto, isso inclui trocar os lençóis. Ok, eu não ia querer ela mexendo nas minhas coisas mesmo
  5. As portas dos quartos tem que ficar abertas enquanto o estudante não estiver em casa. Hem? Por que? 
  6. Os estudantes tem que se revesar para limpar o banheiro dos estudantes. Péra! Quando eu trabalhava em agência de intercâmbio era passado pra gente que os estudantes não fariam nenhum trabalho doméstico, no máximo lavariam os próprios pratos depois de comer e assim também fui informada pela agência que eu contratei, mas tive que lavar banheiro lá. 
  7. Só podia tomar banho entre as 7am e as 9pm
  8. Só podia tomar café da manhã após as 7am.
  9. Não podia levar ninguém pra casa

Além de muitas outras regras expressas no papel, outras tantas foram surgindo com o passar dos dias e dos acontecimentos, por exemplo:

  1. Não podia mexer na temperatura do aquecedor, problema seu se você veio do Brasil e não está acostumado com frio, o aquecedor fica em 18˚C e fim de papo. Quando eu disse que 18 graus pra mim era frio, ela disse que era quente suficiente. Por isso eu dormia com 3 cobertores.
  2. Não pode ir a cozinha pegar água depois das 22h, leve um copo com água pro seu quarto antes disso e não suba mais.
...entre outras.


A única regra que não existia na minha casa e que é  super comum na maioria das casas é sobre a quantidade de banhos por dia e a duração de cada banho. Uma amiga morou em 3 diferentes casas e em duas delas ela só podia tomar um banho por dia e durante 10 min, em uma das casas, a host controlava o tempo e se ela passasse de 10 min ela levava bronca. Isso é mais comum em famílias europeias. 




Não quero generalizar nada e nem influenciar ninguém a não ficar em casa de família, porque é como eu disse, tem casas e famílias muito boas, e pra quem esta pensando: ahhh.. você esta na casa da pessoa, não pode exigir muito, ela já esta abrindo um espaço pra você!
GENTE, Gente... ninguém que contrata casa de família vira hospede na casa de alguém, você esta pagando por um serviço que tem que ser entregue conforme combinado, nenhuma família faz isso de graça só porque gosta de ter estrangeiros em casa ou pra ajudar os estudantes, todas as famílias que estão cadastradas no programa fazem isso porque querem e recebem dinheiro pra isso, é um negocio pra elas, então temos direito de reclamar sim e não temos que lavar banheiro, afinal, alguém ai já foi pra hotel e teve que lavar o banheiro? NÃO!



Bom, pra resumir tudo, a minha experiência em casa de família não foi boa e sendo bem sincera, foi a pior parte do meu intercâmbio, masssss... eu tenho planos de fazer outros intercâmbios e não descarto a possibilidade de ficar em uma nova casa de família, afinal, cada família é uma família e do mesmo jeito que dei um puta azar em Vancouver, posso dar sorte em outro canto do mundo.














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